quinta-feira, 22 de junho de 2017

Uma história, uma manta de retalhos e um livro

O 3ºB da Escola Básica nº1 de Arganil - aquela turminha que de vez em quando recebe uma visita minha para filosofarmos em conjunto - participou num concurso levado a cabo pela APEFP (Associação Portuguesa de Ética e Filosofia Prática) onde tinham que inventar um conto. O concurso foi aberto a todo o país e tinha como objetivo a publicação de um livro ("Filosofia, Crianças e Contos"). E não é que a nossa história figura neste livrinho? Os nossos meninos esforçaram-se e (sem a ajuda dos adultos mas ao mesmo tempo sem terem plena noção disso) escreveram em redor das teorias realista e idealista. Deixo-vos com algumas fotografias do livro e dos nossos pequenos pensadores (vejam bem a sua alegria) e ainda com o conto em primeira mão.

"Magia"

     Num dia de sol, numa aldeia mágica, Eva estava com os pais a fazer um piquenique.
   Depois de comer alguma coisa, Eva foi com o seu cão dar um passeio. Como Eva tinha uma criatividade muito boa, começou a imaginar o seu cão com cabeça de rato, um cavalo com cabeça de gato e uma galinha com cabeça de lagarto. Nós sabemos que essas coisas não podem acontecer mas, como aquela aldeia era mágica tudo era possível.
    Ao olhar para o cão, Eva ficou baralhada.
    - Como é que tu estás tão estranho? - comentou Eva.
    - Eu não estou estranho! Tu imaginaste-me assim, por isso, sou assim. - respondeu o cão.
    Eva foi rapidamente ter com os pais à zona do piquenique e disse:
    - Mãe! Pai! Acho que estou a ficar maluca!
    - Porquê minha linda? – interrogaram os pais.
    - Porque estou a ver coisas que só deveriam estar na minha imaginação!
    - Que tipo de coisas? – perguntaram os pais.
    - Neste momento estou a ver um cavalo com pernas de avestruz.
    Os pais de Eva tiveram de comer muito rápido, pois tinham de levar Eva para casa, que se situava no cume da montanha.
   Quando chegaram a casa foram à cozinha ver se tinham a poção certa para resolver aquele problema.
    - Mas que azar. - disse a mãe.
    - Podes crer querida. – respondeu o pai. Nenhuma destas poções é adequada aos sintomas que ela apresenta.
    Só lhes restava uma opção: levá-la ao cientista louco.
    Desceram a montanha e quando chegaram a casa do cientista ele examinou-a da cabeça aos pés mas … não descobriu nada.
    - Eu cá não descobri nada mas tenho um amigo que pode saber e ter a poção certa para a resolução do problema. – disse o cientista.
    - E por acaso sabe onde está esse seu amigo? – perguntaram os pais.
    - Sim, é um pouco longe daqui, numa aldeia chamada Indára.
   Os pais ficaram agradecidos pela informação e levaram-na até Indára. Quando lá chegaram procuraram em todas as casas e, por fim, quando chegaram à última casa, bateram à porta e disseram:
    - Boa tarde! Procuramos o amigo do cientista.
    - Sou mesmo eu! Mas quem fala?
    - É o senhor Fernando e a senhora Naômi. – responderam os pais de Eva.
    - Entrem por favor. – disse o amigo do cientista. O que procuram?
    - Queremos que nos diga o que tem a nossa filha. – disseram os pais.
    - Que problema é que ela tem? - perguntou ele.
    - Ela anda a ver coisas que não existem. – afirmaram os pais em coro.
    - Eu não sei resolver esses problemas mas, tenho um colega que sabe.
    - Onde é que ele vive? – perguntaram os pais de Eva.
    - Em Lavanda, uma pequena aldeia perto daqui! - disse o amigo do cientista.
   Os pais ouviram, agradeceram ao amigo do cientista e, no dia seguinte, partiram. Ao chegarem à aldeia de Lavanda repararam que havia um grupo de pessoas na rua disfarçadas, pois era carnaval (o carnaval daquela terra era diferente, pois as pessoas usavam a sua magia para se transformarem em comida, por exemplo: pizzas, ovos, batatas fritas, salsichas, pipocas, etc.).
   Bem, como era carnaval, as estradas estavam cortadas e tiveram que estacionar num parque longínquo. Saíram do carro e foram ao centro da aldeia procurar o colega do amigo do cientista maluco. Depois de procurarem em várias casas finalmente encontraram a sua. Tocaram à campainha e quem veio abrir a porta foi um “Robot”, empregado do cientista. Os pais de Eva assustaram-se e fugiram a sete pés mas, a Eva não teve medo do “Robot” e, ao olhar para ele, imaginou-o com a cabeça de “Waflle” e o robot convidou-a a entrar:
    - Olá pequeno “Robot”! Os meus pais ficaram com muito medo de ti por teres esse aspeto muito estranho, mas eu não sou como eles, não tenho medo de ti.
    - Laaaaaaa. – disse o “Robot”
    - O que é que significa isso? – questionou a Eva.
   E, antes de o “Robot” responder, o cientista apareceu de repente.
   - O que é que procuras miúda esquisita? – perguntou ele.
   - Eu vim aqui para resolver os problemas da minha cabeça. – disse Eva.
   - E quais são esses
 problemas?
   - Eu imagino que as pessoas e animais têm cabeças estranhas, por exemplo o “Robot” tem cabeça de “Waflle” e o senhor tem cabeça de leitão!
   - Como te atreves a falar assim comigo? – questionou o cientista.
   - Desculpe senhor, mas pediu para exemplificar e foi o que fiz. – respondeu Eva.
    - Acho que sei qual é o teu problema.
    - E qual é senhor? – perguntou a Eva muito nervosa.
    - Tu és muito criativa! – disse o cientista.
    - E isso é mau? – interrogou Eva.
    - Não, mas nem toda a gente compreende!
    - E porquê? – continuava Eva.
    - Porque só é criativo quem gosta de sonhar! – disse-lhe o cientista.
    - Não pode ser! – afirmou Eva
    - É verdade!  - exclamou ele.
   Ao ouvir aquilo, Eva saiu a correr e correu, correu, correu até ficar cansada.
   Nisto acordou e apercebeu-se que tudo não tinha passado de um sonho. Mas tinha sido tão real que ela mal acreditava e, para confirmar foi procurar os seus pais que felizmente estavam na sala, a ver televisão. Ela contou-lhes o seu sonho e eles riram-se muito, pois a história era engraçada.
   - Eva minha querida filha, os sonhos não passam de sonhos e são só de quem os tem.
   E os três passaram a noite juntos, em família.
Fim.






Agradeço especialmente à professora titular, Maria dos Anjos por toda a dedicação. É preciso gostar-se muito do que se faz e perceber o valor destas atividades e da própria Filosofia para dispensar tempo da sua aula para participar nestes concursos, ler histórias, escrever contos e dar asas à criatividade dos seus pequenotes.

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