sábado, 4 de março de 2017

Ensinar Hume a jogar

Dispositivo lúdico de conceptualização - O empirismo de David Hume

Lecionar Filosofia no Ensino Secundário implica uma constante dinamização na estrutura das aulas e na transmissão dos próprios conteúdos, pois caso o foco esteja num ensino magistral onde o professor, aula após aula, insiste em debitar teorias sem qualquer interação com a turma, a motivação e atenção dos discentes será ténue, contribuindo assim para o afastamento destes para com a disciplina. Num tempo onde a concentração do ser humano é posta à prova com surpreendentes anúncios, propagandas e apelos que o desviam do essencial, também na sala de aula é urgente que se transmitam estímulos aos alunos que não apenas os auditivos, para que assim se mantenham atentos e entusiasmados, provocando-se a sua perplexidade e reflexão crítica. Deste modo, um bom Professor de Filosofia é aquele que investiga constantemente, não dando como adquirido e fechado o corpo de conteúdos, isto é, não "debitando a matéria" ano após ano, sempre do mesmo modo e, quiçá, utilizando o mesmo powerpoint... A Filosofia requer investigação, diálogo e debate. É importante que o Professor esteja desperto para que possa despertar os discentes. É estritamente necessário que o Professor de Filosofia ame a Filosofia para que possa despoletar nos seus alunos esse amor à sabedoria, essa paixão pela investigação, essa amizade pelo estudo. Despertar nos alunos o desejo de saber sempre mais é a tarefa imposta a cada docente. 
Neste sentido, trago-vos uma proposta de um dispositivo lúdico de conceptualização bastante simples de ser aplicado em sala de aula e que poderá estimular a participação ativa de toda a turma. Neste caso, trata-se de uma estratégia diferente de lecionar o "empirismo" do filósofo David Hume.
Note-se, desde já, que tal dispositivo só deverá ser aplicado após a leitura e análise do texto, pois defendo que os alunos devem ter um contacto direto com os textos dos próprios filósofos e não ouvir apenas o professor falar acerca dos mesmos ou ler o manual (ou simplesmente qualquer outro texto indireto sobre o autor, uma espécie de "resumo da matéria"). Não me oponho a tais estratégias, pois penso que todas elas são úteis e, na medida certa, contribuem para a tal "diversificação de estratégias, recursos e materiais" que devem ser utilizados nas aulas. Contudo, este dispositivo aqui apresentado obtém-se a partir da leitura e análise do texto de David Hume (Investigação sobre o Entendimento Humano, trad. por Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2013, pp.23-25, 35-37). 
Após a leitura do texto, os alunos são convidados a identificar os conceitos fundamentais "ideias" e "impressões", distinguindo-os. Para isso, temos a ajuda de um pequeno exercício lúdico: dois alunos voluntariam-se para se aproximarem do quadro onde constam duas tábuas (a "tábua das ideias" e a "tábua das impressões") despidas de qualquer característica (alude-se aqui ao conceito de "tábua rasa", onde a mente está em branco, vazia de conceitos e é a própria experiência que vai escrevendo nela). Depois, são apresentados vários termos, no fundo, características que devem ser atribuídas a uma ou a outra tábua. 
O objetivo do jogo é que cada aluno consiga definir e caracterizar "ideias" e "impressões", justificando assim o motivo da atribuição de cada característica à tábua escolhida. No fim, cada aluno escreve na sua folha os termos correspondentes e clarificaram-se os conceitos. Uma maneira simples mas diferente de ensinar Hume, onde a Filosofia está em jogo!




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