sábado, 9 de junho de 2012

De onde vem o mal?


O mal, sendo um castigo pelo comportamento imoral de Adão e de Eva, não significa que nós estamos ainda a ser punidos pelo seu comportamento ofensivo e desviante dos ensinos de Deus, apenas quer dizer que o ser humano é um ser errante, pecador, e que portanto habita num mundo com mal porque, de facto, fez algo para o merecer, já que Adão e Eva habitavam num mundo onde não existia mal, vergonha ou outro tipo de preconceito, onde apenas a ingenuidade e a verdade reinavam. Porém, se o mal é um castigo pelo pecado não seria de esperar que os mais pecadores sofressem um maior número de injustiças? Ora, isso não se verifica e, como se diz na gíria popular, ‘os bons partem cedo’, o que significa que muitas vezes ocorre precisamente o contrário, onde as pessoas que mais se destacam pelo seu carácter íntegro e digno, são punidas com a maior sentença de todas, na maior parte das vezes cedo demais, a morte. O que dizer numa situação destas a uma mãe que perde o seu único filho, tão íntegro e humilde? Que ele apenas está a cumprir uma pena por ser pecador? Que o seu projecto já estava traçado e Deus não tinha para ele um projecto de salvação? Que, como na ideia de pecado original está subjacente a ideia de que todos os que nascem já são pecadores, o seu filho sempre foi pecador, por menos pecados que tenha cometido, por mais vidas que tenha salvo ou por mais virtudes que tenha tido e que, por isso, o seu destino era este? Ou ainda, como os neoplatónicos defendiam, que o mal não existe e que este acontecimento até pode trazer lucros para o seu futuro? Não será cruel dizer tal coisa para uma mãe que acaba de perder o seu único filho, a sua fonte de vida? Não será injusto dizer-lhe que o mal não existe?
Por outro lado em Santo Agostinho encontramos a ideia subjacente nas suas obras de que as coisas más existem para que possamos desfrutar das coisas boas com maior intensidade e noção. Se nada de mau acontecesse, então não apreciaríamos nem conheceríamos o bem, viveríamos sem dar valor aos aspectos positivos da nossa vida e dávamos tudo como adquirido, sem nos apercebermos do quão afortunados nós somos. Porém, existir o oposto negativo das coisas não implica que elas existam em exagero. Isto é, existir doença para apreciarmos e felicitarmos a saúde, não implica que seja preciso haver tantas doenças no mundo que afectem tantas pessoas e que a maior parte delas seja mortal. Podemos ainda argumentar que a dor e o medo – que normalmente são as coisas más que mais se citam -, são coisas boas. Por exemplo, uma criança que tenha o síndrome Riley Day, isto é, que seja insensível à dor, à primeira vista pode parecer um super-herói, que vive uma vida feliz e despreocupada, mas analisando bem, isto pode ser um sério entrave à vida saudável da criança, pois mesmo que fique sem a língua ou sem um braço ele não sente e, enquanto bebé, pode continuar a aleijar-se cada vez mais e o problema tornar-se ainda mais grave. Assim, a dor e o medo podem ser úteis por nos afastarem do perigo, mas por outro lado podem ser um entrave para a cura, pois a dor ou o medo podem-nos bloquear as nossas reacções e fazer com que não consigamos atingir ou chegar a um determinado sítio para nos curarmos. Assim, o mal pode constituir um aviso e, em certa medida, uma lição para que consigamos melhorar e aperfeiçoar-nos cada vez mais.

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