No livro de Platão, A República, existe uma definição interessante dada por Polemarco que nos diz que "(...) a justiça consiste em fazer bem aos inimigos e mal aos inimigos" (332d). Esta definição é muito usual nos dias de hoje, pois note-se que os jovens, cada vez mais, insistem em retribuir o mal a quem lhes fez mal e o bem a quem lhes faz bem.
Esta definição, embora um pouco abstracta, é refutada por Sócrates que utiliza a noção de bem e de mal para a invalidar. Imaginemos, pois, um cavalo que tem um mau comportamento, difícil de domar, será que se o tratarmos mal, o cavalo torna-se bom? Será então que quanto pior o tratarmos mais dócil ele se torna? Ora, é óbvio que não e por isso mesmo, analogamente, quanto mais tratarmos mal o inimigo, pior ele se torna. Assim sendo, para que eu consiga que os meus inimigos sejam justos, tenho que inverter este princípio e fazer bem aos meus inimigos em função da possibilidade de eles se tornarem bons. A justiça não pode ser causa de uma degradação de carácter e então, o homem bom não pode querer fazer mal a outro, quer seja amigo ou inimigo. Concluo então, dizendo que se de facto, queremos que o nosso inimigo fique mais dócil, então temos que o tratar bem, por mais que nos custe, para que toda a sua carga negativa se exclua. Só com um tratamento bom, conseguimos acções boas.
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